terça-feira, 27 de março de 2018

VISITANDO O SAGRADO LAGO TITICACA

Sabem aquela vontade de ir, de conhecer aquilo de que se ouve falar? De ver com os nossos próprios olhos? Pois bem... foi essa a vontade que me levou ao Peru.

Quando pensamos no Peru, inevitavelmente vem-nos à cabeça Machupicchu! Mas o Peru não é apenas Machupicchu.




Lago Titicaca
É um país tão vasto e diverso que nos permite fazer e ver tantas coisas diferentes em tantos outros lugares incríveis.

Esta ida ao Lago Titicaca teve como objetivo principal conhecer o lago que para os incas é sagrado e ver as ilhas flutuantes.

Este passeio foi comprado em Cusco com a agência NC Travel Cusco aqui.

Ilhas Flutuantes? Há uns tempos atrás tinha ouvido falar em ilhas flutuantes e isso despertou em mim uma curiosidade inquietante. Que coisa estranha, como será que aquilo funciona, como viverão lá as pessoas?

As ilhas flutuantes localizam-se no Lago Titicaca que se situa nos Andes, na fronteira entre o Peru e a Bolívia e é o maior e mais alto lago navegável do mundo, a cerca de 4000 metros de altitude. Dele fazem parte aproximadamente 41 ilhas, algumas com particularidades interessantes.
A Isla del Sol é o lugar onde, segundo reza a lenda andina, o "Deus Sol" mandou os seus filhos se fixarem para nascer a civilização inca.
Temos ainda as Isla de la Luna, Islas de los Uros (ilhas flutuantes), Isla Amantani e Isla Taquille entre outras.

De Puno, cidade onde dormi porque vim de Cusco na véspera, apanho o barco bem cedo, eram umas 8 horas da manhã, e sinto logo ali junto ao lago o fresquinho da hora e do facto de estar a quase 4000 metros de altitude.


Cidade de Puno
Puno não é uma cidade particularmente bonita ou com atrativos, parece um lugar confuso, escuro e sujo. Dos poucos lugares que não gostei no Peru, mas permite no entanto o acesso a este lugar fantástico. Lembro da epopeia que foi encontrar um restaurante decente para jantar, tendo acabado por ir a um "take away" comprar "pollo" e pão.

No barco éramos cerca de duas dezenas de pessoas, turistas de várias nacionalidades (franceses, italianos, canadianos, ingleses e chineses), e o início da viagem foi um pouco atribulado tentando-se as pessoas ajustar ao embalo do barco.

Mas depressa nos ambientamos e deixamos o interior da embarcação e vamos para o exterior do barco para sentir aquela imensurável beleza natural que nos deixa a todos (quase de certeza), deslumbrados.

No exterior do barco comtemplando o lago
(Seria bom haver algo que pudesse medir a beleza dos lugares ou coisas, assim quando alguém dissesse que tal sítio tem uma beleza 9 todos soubéssemos que era mesmo bonito. Numa escala de 0 a 10, em que 0 seria a coisa mais horrível que conhecêssemos e definir o quê e 10 a coisa mais bela que existe, também definido claramente)

Quanto ao Titicaca, o lago é grande, muito grande  e a água de um azul tão intenso e luminoso que por momentos nos faz pensar que nos encontramos entre dois céus, tal a quietude e embalo que vamos sentido.


A primeira paragem desta viagem de dois dias pelo Lago Titicaca, foi numa das ilhas de Uros, a Isla Uros Titino, que dista cerca de 14Km de Puno.

O barco encostou-se à ilha e a pouco e pouco as pessoas saíram para pousar os pés num lugar que sentimos como fofo e móvel. A ilha ia oscilando com as marolas feitas pelo barco. Inicialmente estranha-se mas logo depois nos sentimos à vontade para percorrer a ilha e conhecer os seus poucos cantos.


Chegada do barco à ilha Isla Uros Titino
Isla Uros Titino
As ilhas flutuantes são ilhas artificiais feitas com uma planta que cresce no lago chamada totora (um tipo de junco), verde, comprida e de aspeto esponjoso. Quando se entrelaçam as plantas umas nas outras dão origem a estas peculiares ilhas.


Maquete de como se constrói uma ilha flutuante no Titicaca
Sentámo-nos todos no chão em smi-círculo e ouvimos a explicação de um ilhéu local sobre o processo de fabrico destas ilhas. Elas exigem um trabalho e atenção constantes, afinal de contas não se pode deixar afundar o lugar onde se vive!







Foram construídas dentro do lago para que os seus habitantes escapassem aos primórdios da civilização inca, preferindo viver assim isolados.

E as pessoas vivem assim... em cabanas feitas de totora, sem divisões e sem qualquer tipo de mobiliário. São amáveis e simpáticas e desfilam um arco-íris de cores nas suas roupas.
A sua fonte de rendimento provém da pesca e do turismo.

Isla Uros Titino


Interior de uma cabana feita de totora
Depois das explicações de como se faz uma ilha flutuante, (como se qualquer um de nós pretendesse regressar a casa e fazer uma para si :) ) vamos nestes barcos de totora passear, com um local impulsionando o movimento e dirigindo o barco com uma vara comprida. 




A experiência foi interessante, deslizando o barco tranquilamente por cima da quietude e do silêncio do Titicaca, só se rompendo o silêncio quando os passageiros de cada barco estimulam os "varadores" a acelerar para ver qual dos dois barco chegava primeiro à ilha.






E foi assim que se encontraram cerca de vinte pessoas de nacionalidades diferentes a gritar para " o monte" para que o seu barco fosse o primeiro a chegar. 

Tenho quase a certeza que os homens da vara não entenderam uma palavra de português, de francês ou inglês mas perceberam que estávamos numa disputa pelo primeiro lugar na chegada à ilha, e foi assim nesta linguagem universal que nos entendemos, e foi também isto que nos foi enriquecendo.



Barco feito de totora deslizando pelo lago
Depois do passeio e chegados à ilha encontramos uma feirinha com produtos locais e tecidos bordados pelas mulheres. Compramos sem regatear. Aqui não vale regatear, a diferença para nós seria insignificante, mas para eles a ajuda dos turistas é o que lhes pode proporcionar algum tipo de conforto.

 

 
 
Depois das Islas de los Uros entramos de novo na embarcação que nos levou até ao próximo destino no Titicaca, a Isla Amantani.


Isla Amantani é uma ilha inca no Lago Titicaca onde ainda se vive de forma tradicional, pode-se dizer que a "civilização" ainda lá não chegou... talvez nunca chegue e ainda bem.



Isla Amantani
A principal fonte de rendimento em Amantani é o turismo. As pessoas vivem em comunidade e partilham os rendimentos que obtêm com o alojamento dos turistas nas suas casas.

Aportamos na ilha e cresceu logo ali uma curiosidade intrigante. Um grupo grande de pessoas que nos aguardam no porto de Amantani, eram os locais e vinham buscar os turistas que lhes estavam destinados. 



Conheci ali mesmo Damiana, a habitante da comunidade Occopampa e na casa da qual dormi. De sorriso largo e afável disse para a seguirmos que nos ia mostrar a casa. 


Damiana
Peguei a mochila e logo de seguida me vi numa ofegante correria de passos miudinhos tentando acompanhar esta mulher habituada a altitudes, não se lembrando ela que não temos esta capacidade e frescura para percorrer caminhos a esta altitude.


Seguindo Damiana por caminhos sinuosos até sua casa



Os caminhos são de terra batida e sinuosos com subidas e descidas embora haja outros na ilha feitos com pedra local bem delineados. 


À medida que me afasto do porto, e por entre respirações mais profundas, atrevo-me a olhar para trás para a imensidão azul do Titicaca.
A paisagem entranha-se em nós e sentimos o silêncio e a tranquilidade da ilha, não se ouvem carros, buzinas ou a gritaria que povoa os lugares de onde vimos.


Isla Amantani
As casas são feitas de um tipo de tijolos rudimentares feitos com barro e ervas locais o que lhes dá um aspeto típico.


Por fim chego a casa da Damiana onde me apresenta a sua família, os dois filhos, Marina e Juan e a sua mãe Juana que com eles vive. O marido trabalha em Puno e apenas vem a casa a cada dois meses, as viagens são caras para este povo insular.



Damiana, Marina e Juan
Damiana recebe turistas em sua casa e juntamente com os bordados que faz e vende a turistas é o que permite sustentar a família.


Os filhos não têm a mesma oportunidade. Ele por ser homem frequenta a escola e Marina de 8 anos fica por casa ajudando a mãe nas tarefas, no campo e a cuidar da avó idosa.

A casa não tem eletricidade, aliás, nenhuma tem e é simples muito simples. O quarto onde dormi ficava no primeiro andar e a casa de banho a uma escadaria de distancia, do lado de fora da casa. Bem, descubro um penico debaixo da cama que nunca usei.

A tarde ia já longa quando deixamos a casa de Damiana e nos dirigimos para a parte mais alta da ilha, o Templo Pachatata para assistir ao por-do-sol.

 
A subida é longa, íngreme e difícil e de onde de quando a quando nos cruzamo-nos com "inusitados transeuntes"... são as cabras da ilha recolhendo ao final do dia.




O por-do-sol é simplesmente magnífico e compensa todos os fôlegos perdidos por conta da subida. 

É um momento sublime aquele que todos vivemos neste lugar!








Depois de bem aproveitado o momento retornamos cada um à casa onde iria pernoitar.

O jantar acabou por ser um momento complicado.
À luz daquele candeeiro a petróleo numa cozinha decorada com recortes de revistas sobre Machupicchu ou Puno, fomos sentados à mesa e foi-nos apresentado o melhor manjar que podiam oferecer, quando para eles prepararam "papas" e se juntam em redor da fogueira para ali comer. 

Escusado será dizer que apenas comi quando finalmente conseguimos convencer as crianças a jantar connosco e com eles partilhei aquilo que me haviam colocado no prato.


Almoço na chegada a Amantani no primeiro dia
Jantar antes da festa
Depois do jantar, são-nos emprestadas vestes tradicionais e dirigimo-nos para o pavilhão comunitário onde assistimos a uma atuação de um grupo de música andina local e onde bailámos como se verdadeiros habitantes fossemos.

Naquela roda todos nós rodopiámos e nos divertimos com uma sensação de plenitude que nos invadia a alma, é só isto, é tão pouco mas preenche-nos tanto.




A noite foi tranquila e repousante no Titicaca. Na manhã seguinte deixámos para trás muitas das coisas que enchiam a nossa bagagem, ficamos apenas com o que nos é mesmo necessário. A felicidade  estampada no rosto da Marina quando lhe deixo uma pequena carteirinha rosa é algo que não esquecerei. 

A amabilidade das pessoas, o seu sorriso genuíno e puro, a felicidade e simplicidade com que vivem marcam-nos de forma permanente.
O espanto com que olhavam para os seus rostos eternizados numa câmara fotográfica ou num telefone... inesquecível.


Deixando Amantani para trás
Despedidas feitas embarcámos novamente para mais uma etapa neste nosso percurso pelo Titicaca, dirigimo-nos para a Isla Taquille.


Isla Taquille
Isla Taquille
A Isla Taquille é a ilha mais próxima de Amantani e outra atração do Tago Titicaca, pois é, onde são produzidos os têxteis com melhor qualidade do Peru. 

Cerca de 2000 pessoas vivem também de forma comunitária a 4000 metros de altitude, com costumes e hábitos próprios.
No cimo e centro da ilha existe uma cooperativa com uma loja onde são vendidos aos turistas, os produtos que fabricam.


Centro da ilha e local de reunião
das várias das comunidades





Percorremos a ilha, inicialmente subindo, e vamo-nos cruzando com os locais que em qualquer circunstância aproveitam para tricotar, sejam mulheres sejam homens, estejam parados ou em movimento.


O almoço é no único restaurante da ilha onde comemos peixe do lago sagrado.


As crianças brincavam no largo frente ao restaurante, tinham piões e tinham arcos e flechas.


O regresso a Puno ao final da tarde permite-nos repousar ao mesmo tempo que vamos sentindo o ar fresco do fim do dia. Taquille e as outras ilhas vão ficando para trás e nós com a ânsia de absorver tudo aquilo que os nossos olhos vêm e os nossos sentidos nos fazem sentir... é o lago sagrado.


Este regresso no barco é marcado pela presença desde homem que se dirige a Puno para vender os artigos de Taquille, e que tece ininterruptamente os seus gorros até o barco parar. 


Estamos de volta a Puno de onde continuamos para a nossa volta pelo Peru.






























O melhor de Florença em um dia

Florença é uma das mais bonitas cidades italianas. É o centro da arte do Renascimento e onde podemos ver o melhor da arte feita nos tem...